terça-feira, 17 de novembro de 2009

Planejamento de producão

A pior causa de desastres de vídeo é o mau planejamento, não apenas durante a fase de pré-produção, mas durante todo o processo até o fim da pós-produção. Os profissionais não apenas fazem planos; eles implementam esses planos e os seguem até o fim. Quando planeja como um profissional, você:

• Planeja a tomada na pré-produção.

• Filma a tomada planejada na produção.

• Edita a tomada planejada na pós-produção.

A manutenção e execução desse planejamento são essenciais para a produção de um vídeo de qualidade dentro do prazo e do orçamento.

O aspecto de planejamento da criação de vídeo é tão freqüentemente negligenciado que estamos dedicando três artigos a ele, um para cada fase da produção. Neste mês, o artigo é sobre como planejar a filmagem na pré-produção. É claro que a pré-produção não é nada além de planejamento, do primeiro conceito até o cronograma final. Aqui, entretanto, estamos focados principalmente em desenvolver planos para que você possa, realmente, filmar e posteriormente editar. Veremos o processo de elaboração do roteiro (script), seleção do elenco, seleção da equipe, o reconhecimento e o orçamento.

Veremos também uma nova área de planejamento: efeitos especiais. Em outras palavras, o planejamento da pré-produção está relacionado tanto à edição quanto à filmagem.

Primeiro, o roteiro

Ainda que a ação de escrever não faça parte do planejamento, o roteiro resultante é a base para cada decisão única que você vai tomar na preparação da produção. Sem um roteiro completo você não pode selecionar o elenco do programa, projetar sua aparência, determinar a equipe e os equipamentos necessários, listar os locais de filmagem, fazer o orçamento da produção ou definir um cronograma.

Não, um rascunho não é suficiente, mesmo que ele tenha 50 páginas. Apenas um verdadeiro roteiro é suficientemente específico para a realização do planejamento. E um storyboard? Seqüências de storyboard com ações e/ou efeitos especiais complexos são boas para a visualização do layout do vídeo, mas você deve usar um roteiro escrito para fazer o planejamento da produção.

Um script de quot;A/V” (áudio e video) em duas colunas de um programa de não-ficção inclui a narração completa e o áudio principal na coluna da esquerda e as ilustrações correspondentes na da direita. Os filmes de ficção adotam o modelo clássico de roteiro. A web está repleta de exemplos de formato de script. Para ter uma idéia sobre os detalhes a incluir, leia o quadro ao lado. A moral da história é: na hora da produção, não adianta gravar o planejamento sem ter planejado a gravação nos mínimos detalhes.

Efeitos especiais

As pessoas pensam que efeitos especiais se resumem a atividades de composição e computação gráfica realizadas na fase de pós-produção. Entretanto, os efeitos mais convincentes são totalmente planejados na pré-produção, para que o local, a composição e o trabalho de computação gráfica possam ser totalmente integrados por meio da implementação do planejamento detalhado. É por isso que você tem de desenvolver integralmente seus efeitos especiais, mesmo antes de procurar os locais de filmagem e propostas de orçamento.

Por exemplo, pense em uma espetacular colisão frontal de carro. Para conseguir captar o impacto real, você fará com que os carros corram um na direção do outro e passem um pelo outro, talvez 60 cm separados por questões de segurança, fazendo a filmagem principal com uma teleobjetiva para ocultar a distância entre eles. Na pós-produção, você planeja acelerar a tomada da colisão e então ocultar o fato de que eles passaram um pelo outro preenchendo a tela com uma bola de fogo gerada por computador no momento da ação.

Muito bem. Acontece que o verdadeiro segredo de qualquer efeito está em incluir cenas auxiliares no pacote. Para garantir os efeitos desejados, é necessário filmar cenas de cada carro em alta velocidade, mostrar os motoristas e, quem sabe, filmar o capô de um dos carros após a batida, no momento em que a vítima, com muita dificuldade, tenta sair de dentro do carro. O planejamento também inclui colocar alguns blocos de apoio debaixo de um dos lados do carro para incliná-lo e aumentar o ângulo do tombo inclinando a câmera na direção oposta. (Para o diretor de fotografia: Escolha um segundo plano vago, que não denuncie a inclinação da câmera, e projete uma “luz de fogo” cintilante sobre o pára-brisa, a porta e a vítima tentando sair.) Na pós-produção, crie um efeito de fogo violento no primeiro plano para completar o truque. Tudo isso deve ser planejado detalhe por detalhe, até o efeito de fogo e as cinzas.

A moral da história é: você não pode simplesmente dizer, “ah, a gente vai fazer o carro bater no poste.” Somente com um planejamento detalhado antes e durante a filmagem, você pode entregar o material necessário para criar um efeito de primeira.

Qual é o grau de detalhamento do roteiro?

Seja fazendo script nos formatos A/V ou de roteiro, você não especifica (na realidade, não deve especificar) os ângulos da câmera e as tomadas individuais. Por exemplo, se a história chama à cena um personagem para olhar as vitrines de uma rua, é suficiente escrever: Márcia anda pela rua principal, olhando vitrines, parando em frente de algumas e continuando. Na metade do caminho, ela percebe alguma coisa em uma vitrine. É a estátua de um falcão negro. Surpresa, ela toma coragem e entra na loja.

Observe como a divisão de parágrafos sugere um corte brusco do conteúdo da cena, mas sem tentar fazer o trabalho do diretor. Qualquer diretor digno do título saberá como distribuir essa ação entre os cenários apropriados. Por outro lado, o gerente de produção pode obter informações suficientes, a partir da descrição, para escalar a atriz que interpreta “Márcia” e planejar a locação com uma rua de cidade pequena, com um antiquário ou loja de penhor, e providenciar um Falcão Maltês como objeto de cena.

Resumidamente, o roteiro deve ser detalhado o suficiente para planejar, sem ser muito restritivo.

Pessoas, lugares e feedback

Até as maiores produções de Hollywood são planejadas e desenvolvidas por aproximação contínua: o script descreve os requisitos; os responsáveis pelo planejamento se aproximam o máximo possível de atendê-los; em seguida, o script é ajustado para eliminar os recursos que não foram obtidos e maximizar aqueles que foram.

Esse fato sempre é verdadeiro quando se seleciona atores. Por exemplo, suponha que o roteiro exija que a madrasta maldosa seja uma mulher bonita e provocante, mas que a atriz que você conseguiu encontrar é uma pessoa desmazelada e insípida que causaria uma impressão de simploriedade ao flertar com outro personagem em cena. Isso acontece o tempo todo. Você então faz algumas alterações rápidas no roteiro para criar uma madrasta maldosa que seja desmazelada e insípida. Fazendo um planejamento para se adaptar às circunstâncias, você resguarda tanto a atriz quanto o programa de situações embaraçosas.

Ou pense nos locais. Se não consegue encontrar nenhum lugar parecido com o calabouço onde a madrasta má aprisionou a heroína, você tem três opções: remover a parte do calabouço, criá-la como um conjunto de transições geradas por computador (se tiver os recursos) ou apenas acorrentar a princesa em um galpão ou outro local semelhante.

Novamente, se planejar esses ajustes antes de iniciar a produção, você ainda terá a chance de filmar o que planejou. Mas, se não tiver investido no planejamento, você vai acabar indo parar em um “calabouço” pouco convincente e terá que improvisar correções no local. Esse tipo de coisa raramente dá muito certo.

O todo-poderoso cronograma

Na realidade, o orçamento e a programação são duas metades de um círculo. A programação leva o elenco, a equipe e os equipamentos necessários certos para a locação correta na hora certa. Ela é crucial se você estiver pagando as pessoas por hora ou dia e não perde importância se a equipe estiver trabalhando gratuitamente.

Um bom planejamento também resulta em uma grande economia de dinheiro (é aqui que o cronograma e o orçamento se encaixam). Por exemplo, se o aluguel do carro antigo que você usa custa US$ 200 por dia, você vai filmar todas as cenas nas quais ele é usado uma após a outra para poder devolvê-lo o mais rápido possível.

Certo, mas e para trazer até o local da filmagem? Já aluguei um carro antigo sem saber que ele não funcionava. Na última hora , tive que desembolsar uma nota preta que não estava no orçamento para alugar um caminhão-guincho por um dia.

Isso também é válido para qualquer coisa que seja sensível ao tempo. Com um planejamento cuidadoso, você terá sempre um elenco perfeito no lugar certo com os equipamentos e acessórios necessários, todos prontos para filmar. Sem planejamento, todos acabarão andando em círculos e isto não é bom.

E se chover ou outra coisa der errado? Um profissional de planejamento terá um plano para qualquer eventualidade: uma maneira de filmar outra coisa até você retomar o seu cronograma original.

Dinheiro, dinheiro, dinheiro

Os contadores profissionais da produção devem manter pequenos altares em honra ao espírito de Murphy, no qual eles queimam notas simbólicas de dólar, porque, em uma tomada, qualquer coisa que poderia dar errado, dará errado. Corolário 1: tudo o que dá errado custa dinheiro.

Tudo. Não é preciso dizer que bons planejadores de produção orçam o filme item por item, incluindo até os cremes do departamento de maquiagem. Em seguida, elas analisam minuciosamente todos os aspectos da produção. Um personagem joga um vaso em outro? Quantas tomadas e quantos vasos serão necessários? Alguma seqüência precisa de neve verdadeira? Qual é a previsão do tempo e quantos dias serão perdidos esperando que a neve caia?

É claro que uma produção é diferente da outra. Se você for filmar o discurso da presidente da empresa na sala dela, sorte sua. Agora, se for fazer a cobertura da migração das baleias da perspectiva do protagonista… boa sorte.

Como você não tem rios de dinheiro, não é só dizer “Quanto é, que eu pago”. Cada página do script deve passar por um olhar frio de planejamento, para detectar qualquer parte que possa estourar o orçamento. Separe ainda uma margem para cobrir eventuais despesas extras.

Dobre o seu orçamento. E reze!

O planejamento da produção fica por aqui. Na seqüência, veremos como colocar esse planejamento em prática nas filmagens para editar o vídeo que tínhamos em mente no princípio.

O editor freelance Jim Stinson é o autor do livro Video Communication and Production.

Esse artigo foi publicado inicialmente na edição de abril de 2005 da revista Videomaker Magazine

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