terça-feira, 17 de novembro de 2009

Manipulação do tempo

Manipulação do tempo

por Bill Davis © 2005 Videomaker, Inc.
Esse artigo foi publicado inicialmente na edição de setembro de 2005 da revista Videomaker Magazine.
Tempus Fugit. Se você não domina o latim, essa expressão quer dizer “o tempo voa.” E ele voa. Às vezes. Ou ele rasteja devagar como uma lesma.

Como produtores de vídeo, é nosso trabalho fazer o tempo voar. Ou rastejar. Ou saltar, pular ou saltitar. Dadas as ferramentas que todo software de edição moderno tem hoje, podemos praticamente fazer o que quisermos como o tempo. Sim, toda vez que nos sentamos para editar, somos os pilotos do tempo. Podemos apresentar o tempo sob diferentes perspectivas. Podemos pegar uma cena que originalmente ocorreu em “tempo real” e colocá-la em câmera lenta para facilitar que o nosso público-alvo examine em detalhes a cena que se passa. Ou podemos optar por acelerar o tempo, reduzindo segundos, minutos ou até mesmo horas longas em um vídeo curto com poucas imagens. Então, dada essa força, como decidimos se é ou não uma boa idéia brincar com o padrão “tempo real” da natureza? Pergunta difícil.

O tempo é seu aliado

Normalmente, fazer um minuto de filmagem leva um minuto para passar na tela. É um ritmo natural que reflete o que esperamos ver no mundo real. Mas voltando à sala de edição, o tempo é (literalmente) o que você fizer dele. De fato, a idéia bem básica da edição começa apenas como uma forma de diminuir o tempo. Quando nós cortamos de uma cena para a próxima, estamos removendo o tempo que nós tivemos de deslocamento de um local ou ângulo para outro e estamos reduzindo a cena para um visual mais reduzido. Esperamos que, após a remoção do material que não é pertinente para a história que estamos contando, o resultado seja uma cena que prenda a atenção do nosso público.

Portanto, a principal ferramenta de compactação de tempo na produção de vídeo é o corte. Na verdade, em praticamente todos os filmes, a única ferramenta de transição empregada é o corte. E como e onde fazer o corte são questões realmente importantes. Assista a materiais bem editados e reserve algum tempo para analisar os cortes. Você perceberá que existe uma “linguagem” dos cortes, principalmente em vídeos de histórias narrativas. Você pode acabar perdendo a audiência se fizer um corte que tenha efeito dissonante e a afaste de sua história.

Nos termos da produção de vídeo, esse fato algumas vezes é mencionado como “jump cut”, que significa duas tomadas semelhantes cortadas juntas com um salto em continuidade, posição de câmera ou tempo. É irritante porque ele confunde nossas expectativas de tempo.

Se um personagem levantar o braço em determinada cena e você cortar para outra tomada dessa cena em que ele está com o braço abaixado, dizemos que não há “continuidade”, um nome bonito para a manutenção de um fluxo visual, para que o público perceba uma progressão adequada entre as ações. Mas se o objetivo da edição é justamente reduzir o tempo, como podemos atingi-lo? Recorrendo a truques, é claro.

Como enganar o tempo

Uma técnica é cobrir nossos “jump cuts” (cortes sem transição) com cenas do “b-roll” (cenas brutas ou adicionais), que desviam a atenção do público da falta de continuidade. É por isso que uma boa “cobertura”, isto é, gravar cenas extras que possam ser utilizadas como cortes, é tão importante. Tomadas de corte mascaram saltos no tempo.

Mas, algumas vezes, mudar o tempo é realmente mudar o tempo. Fazer suas cenas ficarem mais rápidas ou mais lentas do que elas naturalmente ocorreram. E há algumas novas ferramentas excelentes incorporadas aos programas de edição que tornam esse processo muito mais conveniente do que jamais foi visto antes.

Há algumas gerações de software, o recurso legal era o “remapeamento de tempo”. Com ele, o usuário não especifica a porcentagem única de “mais rápido” ou “mais devagar” para um clipe inteiro, mas depende da capacidade de mudança da velocidade para aumentar ou diminuir a velocidade via quadros-chave. Com esse avanço, vimos um aumento súbito de comerciais de TV irem ao ar com cenas de movimento que começavam com uma velocidade e então devagar iam acelerando aos poucos e desaceleravam de uma vez num simples efeito.

É um visual legal. E hoje muitos programas de edição são fornecidos com esse efeito. (Verifique em seu manual o termo “remapeamento de tempo” ou um termo semelhante para ver se seu programa pode fazer isso.) Novamente, a vantagem é que você controla a velocidade com que suas cenas são apresentadas para o seu público-alvo.

Digamos que você esteja filmando um ‘tour pela escola’. Depois da seqüência “Aqui fica o refeitório”, você pretende pular para a seqüência “Com vocês, a sala da fanfarra!”. Em vez de gravar a seqüência do refeitório, desligar a câmera e ir para a sala da fanfarra gravar a próxima seqüência, você pode deixar a câmera ligada e ir filmando os sujeitos no próprio trajeto. Com auxílio do remapeamento de tempo, você pode acelerar a filmagem da “caminhada” para que o público acompanhe o percurso entre os ambientes em alta velocidade! Isso ajuda o público a perceber melhor a estrutura física da escola, sem cansá-lo com uma cena de caminhada muito extensa.

Como prolongar o tempo

Quase sempre pensamos em manipulação de tempo em termos de redução de tempo, como em nosso vídeo da escola quando saímos da lanchonete para a sala de música. Assistir a todas as imagens entre as duas locações em tempo real seria monótono e desperdiçaria tempo necessário para outras tomadas mais cativantes. Então simplesmente excluímos a caminhada ou, neste exemplo, aceleramos a cena para torná-la mais interessante. Mas e se desejarmos ampliar a duração de uma cena que na verdade ocorre em apenas alguns milissegundos? Aí que está o problema.

O filme Um homem fora de série , de 1984, estrelado por Robert Redford, está cheio de exemplos clássicos de expansão do tempo. Quanto tempo demora para um arremessador no beisebol fazer um arremesso para o rebatedor? A 129 km/h, cerca de 1/3 de um segundo. Como você pode expandir esta tomada para adicionar mais drama à cena? Manipulação de tempo. No filme, vemos Redford preparando-se para o arremesso final. Vemos então uma tomada ampla da posição do arremessador à medida que ele analisa a situação. Cortamos para uma tomada reversa do rebatedor, do receptor e do árbitro. Cortamos para um close-up do receptor fazendo um sinal secreto para Redford. Cortamos de volta para o close-up do rosto de Redford à medida que ele acena com a cabeça para o receptor. Cortamos para uma tomada ampla dos espectadores boquiabertos nas arquibancadas. Cortamos para um close-up de um pequeno garoto assistindo ao seu herói. Cortamos de volta para o arremessador à medida que ele sobe a perna para o arremesso final. Cortamos de volta para um close-up do rebatedor quando ele chuta a terra na base principal. Imaginou a cena? Essa seqüência inteira representa o que vem a ser um minuto ou mais antes de Redford realmente fazer aquele arremesso rápido como um raio. Nós editores somos mestres da manipulação do tempo!

A natureza do tempo

Já ouvi dizer que “um segundo com a mão sobre o fogo é diferente de um segundo beijando a pessoa amada”. O primeiro você não vê a hora de terminar, o segundo você desejaria que durasse para sempre. Isso ilustra bem nossa própria concepção de tempo, que é única e pessoal. As meninas do bordado se deliciam com aquele enxoval que a Ana Maria Braga ensinou a fazer na TV, mas para mim é completamente entediante.

A questão é que o tempo é muito relativo. Portanto, antes de começar a acelerar tudo no seu vídeo para ganhar tempo porque você pensa que está atrasado, lembre-se de que você provavelmente viu a imagem do seu vídeo uma centena de vezes durante a edição. Para o seu público, esta é provavelmente a primeira vez.

Como prolongar o tempo

Quase sempre pensamos em manipulação de tempo em termos de redução de tempo, como em nosso vídeo da escola quando saímos da lanchonete para a sala de música. Assistir a todas as imagens entre as duas locações em tempo real seria monótono e desperdiçaria tempo necessário para outras tomadas mais cativantes. Então simplesmente excluímos a caminhada ou, neste exemplo, aceleramos a cena para torná-la mais interessante. Mas e se desejarmos ampliar a duração de uma cena que na verdade ocorre em apenas alguns milissegundos? Aí que está o problema.

O filme Um homem fora de série , de 1984, estrelado por Robert Redford, está cheio de exemplos clássicos de expansão do tempo. Quanto tempo demora para um arremessador no beisebol fazer um arremesso para o rebatedor? A 129 km/h, cerca de 1/3 de um segundo. Como você pode expandir esta tomada para adicionar mais drama à cena? Manipulação de tempo. No filme, vemos Redford preparando-se para o arremesso final. Vemos então uma tomada ampla da posição do arremessador à medida que ele analisa a situação. Cortamos para uma tomada reversa do rebatedor, do receptor e do árbitro. Cortamos para um close-up do receptor fazendo um sinal secreto para Redford. Cortamos de volta para o close-up do rosto de Redford à medida que ele acena com a cabeça para o receptor. Cortamos para uma tomada ampla dos espectadores boquiabertos nas arquibancadas. Cortamos para um close-up de um pequeno garoto assistindo ao seu herói. Cortamos de volta para o arremessador à medida que ele sobe a perna para o arremesso final. Cortamos de volta para um close-up do rebatedor quando ele chuta a terra na base principal. Imaginou a cena? Essa seqüência inteira representa o que vem a ser um minuto ou mais antes de Redford realmente fazer aquele arremesso rápido como um raio. Nós editores somos mestres da manipulação do tempo!

Interpolação: Contagem de tempo

“Câmera lenta” é uma técnica poderosa usada para ajudar o público a “entender” a cena onde a ação ocorre muito rapidamente para o cérebro processar.

Um ótimo exemplo é o filme Matrix, o efeito “bullet time” que atrai a atenção do público para as habilidades sobrenaturais do personagem principal. Esse tipo de remapeamento de tempo visual foi revolucionário quando chegou aos cinemas alguns anos atrás. Hoje, a maioria dos sistemas de edição pode reduzir o tempo com alguns cliques. Entretanto, é importante saber que nem todos os efeitos de “câmera lenta” são criados da mesma maneira.

A maioria dos softwares de edição de filmes simplesmente muda a taxa na qual os quadros são exibidos para atingir os efeitos de movimento lento e rápido. Portanto, mudar a velocidade em incrementos iguais (quadros pela metade, duplicados, triplicados, etc.) é muito fácil para qualquer software de edição. Mas e se você precisar de outro tipo de recurso além desta manipulação de tempo matematicamente simples? E se você quiser tornar a cena mais lenta em 40%? Evidentemente, a matemática necessária para dividir esses quadros é muito mais complexa.

Foi aí que os especialistas em computador tiveram que se mexer e criar modelos matemáticos para fazer alguma coisa complexa chamada “interpolação.” A interpolação é o processo de analisar os dados de movimento nos quadros de vídeo na sua fita, e não somente a exibição deles em diferentes taxas de quadros, mas na verdade “falsificando” dados que não existiam na fita original de maneira que o movimento lento ou rápido na tela seja suave e realista.

Bons algoritmos de interpolação são o segredo para obter resultados realmente bons ao remapear o tempo para obter efeitos de câmera rápida ou lenta. Por isso, se quiser conseguir bons resultados, verifique se o software que está utilizando tem a função de interpolação.

Hora de praticar

Como todos os outros efeitos de vídeo e de edição, o remapeamento de tempo é melhor aproveitado quando transcende o nível do “olha só que legal”. No filme Matrix, por exemplo, ele é revelador. As seqüências do “bullet time” ajudam a visualizar elementos que, em tempo real, não passariam de manchas. E no exemplo do “tour pela escola”, o remapeamento de tempo coloca o vídeo em um ritmo que não tira o interesse do espectador e, ao mesmo tempo, permite que veja como é o espaço físico da escola, um objetivo essencial do vídeo.

Por isso, desenterre seus manuais e saiba como seu software pode transformar um “editor de vídeo” em um verdadeiro “piloto do tempo” em apenas alguns cliques. Você se surpreenderá com os lugares maravilhosos que poderá mostrar ao público quando tiver aprendido a voar! Tempo esgotado, fico por aqui.

Bill Davis escreve, filma, edita e faz narrações para diversos clientes corporativos e industriais.

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