terça-feira, 17 de novembro de 2009

A escola está em aula

A escola está em aula

por Morgan Paar © 2004 Videomaker, Inc.
Este artigo foi publicado inicialmente na edição de março de 2004 da revista Videomaker Magazine
Como você pode esculpir um elefante em mármore? Fácil, consiga um bloco de mármore e corte fora tudo que não se pareça com um elefante. Como você edita três horas de gravação original em uma cópia final interessante de três minutos? Sem problemas, basta tirar todo o material ruim. Aqui está uma pequena lista de técnicas e “as coisas ruins” para procurar quando se sentar no compartimento de edição.

Os primeiros e os últimos cinco segundos

Na verdade, esta é mais uma técnica de filmagem do que uma dica de edição, mas como provavelmente você também está filmando, decidi incluí-la (e caso não esteja, seu cameraman deve se responsabilizar por esta etapa). Trechos iniciais e finais, que em alguns ambientes de edição são chamados de handles, são quantidades de fita gravadas antes e depois da ação. Normalmente gravo pelo menos cinco segundos nas duas extremidades. Isso é realmente útil, especialmente se você pretende usar um efeito de fade (aparecimento/desaparecimento gradual) ou fusão antes ou após seu clipe. Por exemplo, se o ator começar a falar assim que a gravação se iniciar, você não terá imagens suficientes para um efeito de aparecimento gradual (fade in) a partir do preto. Ao filmar, pressiono o botão Record (Gravar) na câmera e anuncio “Fita rodando”. Em seguida, observo o time-code no monitor LCD e aguardo cinco segundos antes de gritar “Ação!” Quando o ator termina de falar, espero mais cinco segundos antes de dizer “Corta”.

Organização

A organização é extremamente importante, muito mais importante do que você pode imaginar. Com os enormes discos rígidos de hoje e sua própria criatividade ambiciosa, você pode facilmente trabalhar com centenas de arquivos de mídia (vídeo, áudio e fotografias) mesmo em um projeto curto. À medida que examino minha filmagem original, organizo todos os meus clipes em compartimentos com palavras-chave (para pesquisa) e uso os códigos de cor e a opção de caixas de seleção “bom” que o Final Cut Pro colocou na janela do seu navegador. Todos os programas de edição avançada fornecem algum tipo de ferramenta para organização, e seria bom você dar uma olhada nelas. Quando quiser encontrar aquela ótima seqüência enterrada em 30 horas de filmagem bruta, você ficará feliz de ter dedicado um tempo para usá-las.

Monitores

Esta é uma solução cara para um problema sério, mas ela deve estar no topo de sua lista de equipamentos. Você precisa ver seu vídeo da maneira como ele será assistido, e a imagem exibida no monitor de seu computador não é a de uma televisão. Toda cabine de edição profissional possui monitores de vídeo por uma razão. Em nossa edição, usaremos um monitor de vídeo para examinar a cor, procurar problemas de entrelaçamento e verificar a mascaragem. A melhor solução é comprar um monitor de produção profissional, mas, se você não tem cerca de US$ 700, uma simples televisão colorida NTSC é certamente melhor do que nada.

Ritmo

Encontrar o ritmo pretendido foi a lição mais importante que aprendi nos três anos e US$ 60.000 que investi na faculdade de cinema. Estava eu editando meu primeiro curta no sistema Media 100, quando o diretor do programa percebeu como eu estava apanhando na criação. Ele puxou uma cadeira e, sem dizer uma palavra, bateu a barra de espaço, iniciando a reprodução na linha do tempo. Em seguida, começou a bater o pé, o dedo na mesa e na cabeça simultaneamente por oito tempos e bateu a barra de espaço de novo. Por fim, disse: “É aqui que você vai cortar.” Existem tantas definições e técnicas de ritmo quanto diretores. Observe o ritmo de outros trabalhos e encontre o ritmo que funciona para o seu estilo de criação e a obra que está fazendo.

O problema das fusões

Sei que o seu software tem mais de 600 fusões. Tenho ido a muitos festivais de filme estudantis e tenho visto todos eles. Eles ajudaram a avançar a história? Eles melhoraram o trabalho? 99% das vezes eles não contribuíram para isso. A maioria dos projetos usa principalmente cortes e ocasionalmente fusões e se desbotam para o preto. Comece a prestar atenção em quantas vezes o filme que você paga para ver ou passa na televisão tem fusões de estrelas ou transições de tabuleiros. Isso não acontece com freqüência. Sim, há muitas transições engraçadas em Star Wars e transições orgânicas no programa de TV do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Use esses efeitos apenas quando eles se adequarem ao ambiente, e não porque eles estão lá.

Existem tantas definições e técnicas de ritmo quanto diretores. Observe o ritmo de outros trabalhos e encontre o ritmo que funciona para o seu estilo de criação e a obra que está fazendo.

Áudio

Esta área pode facilmente ser a campeã dos erros cometidos por iniciantes na pós-produção (e também pela equipe de produção). Nunca se dedica tempo suficiente para ajustar, aperfeiçoar, elaborar e criar um bom —ou melhor— um excelente áudio. O áudio é imensamente menosprezado no processo de produção de filmes. Áudio abrange a produção sonora, os efeitos sonoros, as músicas, narração/dublagem, Foley (áudio pós-produzido durante a visualização da imagem em movimento, como sons produzidos pelas personagens ao beber, passos, etc.) e todos os outros sons existentes ou inexistentes no produto final. Já ouvi pessoas dizendo que um bom áudio melhora a qualidade visual, mas consigo pensar em vários exemplos de filmes e documentários nos quais o áudio salvou a cena ou até mesmo o filme todo. Planeje para a edição do áudio o mesmo tempo que você planejaria para a edição visual. Se não for um especialista em áudio, encontre alguém que seja, faça algumas aulas ou compre alguns livros sobre essa arte. A engenharia de áudio pode intimidar no começo, eu mesmo tive essa sensação durante tempo demais. Mas o quanto antes você começar a fazer experiências na área, menor será o prazo para que os seus vídeos mostrem seu profissionalismo.

Flash Frames

Nos Estados Unidos, um vídeo é composto de 30 fotogramas por segundo, reproduzidos consecutivamente para criar no espectador a ilusão de imagem em movimento. Os softwares atuais oferecem precisão de quadros, o que era muito difícil de obter quando eu editava em máquinas lineares em meados da década de 80. Isso significa que é possível cortar cada segundo de clipe em 30 lugares diferentes. Agora, suponhamos que você esteja filmando o rosto de uma pessoa que está sendo entrevistada e, após a entrevista, você desligue a câmera. A filmagem seguinte é um close-up em um trem passando em alta velocidade. Mais tarde, você se mata de editar o filme em sua sala e, quando assiste à primeira versão, percebe algo de errado no final da entrevista. Não dá para ver direito o que é, mas parece um apagão subliminar entre o final da entrevista e a cena seguinte. Uma explicação possível para a falha é que você tenha deixado um quadro a mais na linha do tempo, no começo da cena do trem. Outra possibilidade é que tenha sobrado um quadro vazio sem filmagem ou escuro no meio do corte.

Visualizando os quadros na linha do tempo, mais afastados, não dá para ver esse erro, mas se você ampliar até o corte, perceberá um quadro isolado contendo uma imagem não planejada. Sempre vejo isso acontecer na janela de edição dos trabalhos acadêmicos. E, o que é pior, vejo acontecer também em produtos acabados, nos festivais. Edição é uma ciência exata. Em uma tarde pode até sair um trabalho bacana, mas o mesmo vídeo poderia levar semanas para ficar perfeito.

Saiba quais serão seus espectadores e edite o seu vídeo de uma maneira que causará impacto neles e os deixará com a emoção que você está tentando comunicar.

Livre-se de seus xodós

Sei que isso soa um pouco dramático, mas esses eram os dizeres favoritos de um grupo de estudantes de cinema de uma escola de ensino médio em que lecionei na Carolina do Norte. E fez bem para eles. Quando você filma, dirige ou produz uma determinada cena, é possível que se apegue a ela por outras razões que não sejam o fato de ela ser uma boa cena. Então, na cabine de edição, as suas emoções confundem seu julgamento objetivo para pressionar o botão de exclusão. Pode haver, facilmente, dúzias desses “xodós” na sua obra-prima, transformando o que deveria ser um trabalho compacto e agradável de 5 minutos em um exaustivo teste de resistência de 40 minutos para a sua família e amigos. Se você não conseguir eliminar seus “xodós” de maneira objetiva, peça a algumas pessoas em cujo julgamento você confia para assistir e criticar.

Salve com freqüência

É como escovar os dentes antes de ir para a cama: todos sabem que devem fazer, mas poucos fazem. Então, um dia você não terá mais dentes. Acontece a mesma coisa com a edição. Adquiri o hábito de salvar manualmente a cada cinco minutos mais ou menos e salvar depois que concluo uma edição complicada. Como os arquivos de projeto são razoavelmente pequenos, também tendo a salvar periodicamente novas versões do meu projeto, de forma que sempre tenha para onde voltar caso mude de idéia depois. Dessa maneira, quando a rede elétrica cai, você não perde as suas duas últimas horas de trabalho e consegue cumprir o prazo final da tarde que se aproxima.

Conheça seu público-alvo

“Conheça seu público-alvo” é outro conceito aparentemente simples, mas que incontáveis editores não compreendem. Se estiver fazendo um curta-metragem sobre questões sensíveis na ala de um hospício, você provavelmente não vai querer editá-lo em um estilo hip-hop, MTV. Saiba quem serão seus espectadores e edite o curta de maneira a causar impacto neles e os deixar com a emoção que você está tentando comunicar.

Versão final

Aí está: dez dicas comuns sobre edição. Quando compreendê-las, você saberá que não deve haver nada na sua cena que não tenha sido planejado. Você também passará por momentos mais agradáveis na cabine de edição e o seu público deixará a exibição com um sorriso estampado no rosto, se esta for a emoção que você está tentando causar nele.

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